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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sábado, 26 de maio de 2018

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE


Deus é mistério de amor, e cria tudo no amor e na comunhão.
Resultado de imagem para SANTISSIMA TRINDADEA solenidade de hoje nos convida a celebrar e refletir sobre o mistério do ser de Deus. Todos alimentamos um pretensioso desejo de conhecer Deus e de falar sobre ele, mas será que Deus estaria à nossa disposição, desprotegido frente à nossa ânsia de conhecer, manipular e dominar?  Conhecemos pregadores que falam de Deus como se soubessem tudo sobre ele, mas que, na verdade, falam sobre seus próprios conceitos. A fala compulsiva sobre Deus geralmente é uma defesa contra a verdadeira experiência de Deus, que é o único ponto de partida seguro para falar sobre o mistério divino...
Damos o nome arquétipos às imagens e valores que mexem com o ser humano em sua profundidade. Essas imagens são uma espécie de filtro mediante o qual olhamos tudo e vemos a nós mesmos. Elas ordenam ou confundem, escravizam ou libertam.  E Deus é um dos arquétipos mais profundos e influentes da nossa vida. Se nossa imagem de Deus é deformada ou doentia, acabamos deformando-nos e adoecendo. Se desconfiamos muito de nós mesmos, acabamos imaginando um Deus observador e desconfiado, pronto a pedir provas e julgar o ser humano...
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A solenidade da Santíssima Trindade vem nos recordar que a imagem correta de Deus não é a de um sujeito solitário, absoluto, onipotente e onisciente, mas uma imagem de comunhão no amor, de ser-para-os-outros, de abertura e acolhida, de compaixão e dom de si. Deus é o arquétipo da perfeita comunhão, uma comunhão na qual cada sujeito recebe tudo do outro e se faz dom radical e incondicional ao outro. Esta comunhão na acolhida do outro e na doação amorosa de si é também a vocação ou DNA das criaturas. O Papa Francisco lembra que misericórdia é a palavra que melhor expressa o mistério da Santíssima Trindade, que do coração da Trindade flui uma grande e incessante torrente de misericórdia.
Nossa primeira atitude diante do Mistério de comunhão, que é a essência de Deus e das criaturas, mais que espanto reflexivo, é a adoração agradecida. “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém!”  Adoração é a resposta própria de quem se descobre pequeno e impotente e, ao mesmo, destinatário de um amor que o faz capaz, digno e grande. O divino mistério de Comunhão e de Bondade nos põe de joelhos e nos leva a exclamar “Glória!” É por isso que, diante de Jesus ressuscitado, os discípulos ajoelham-se reverentes e obedientes...
Resultado de imagem para SANTISSIMA TRINDADEGlorificar significa honrar e fazer brilhar, e nós glorificamos a Deus porque ele mesmo nos glorifica, dando-nos a condição de filhos e filhas, conferindo-nos um esplendor que nos faz semelhantes a ele. Glorificamos a Deus quando desfazemos as imagens deformadas que o identificam com um ditador onipotente, um juiz implacável, um doutor onisciente ou um ser sem coração, e proclamamos, com a boca e com a vida, sua misericórdia, sua compaixão e seu amor pela justiça e pelo direito. “A glória de Deus é o ser humano vivo, e a vida do ser humano é a comunhão com Deus”, ensina Santo Irineu de Lyon.
A experiência mística do amor de Deus nos compromete necessariamente com a missão de em tudo amar e servir, de promover a vida plena das criaturas de Deus. “Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês.” É uma missão que se abre a todos os povos e desconhece fronteiras e muros que dividem, uma missão enraizada e focalizada no amor. Fazer discípulos significa acolher e congregar no amor aqueles que são diferentes, fazer-se próximo daqueles que estão longe.
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Jesus nos envia a batizar, pois o batismo sinaliza o discipulado e nele nos introduz, é a assinatura de uma nova lealdade, não mais aos doutores da lei e ao imperador, mas ao Deus Uno e Trino, à Divina Comunhão, da qual a Eucaristia é sacramento e celebração. No batismo expressamos nossa feliz condição: somos filhos e filhas do universo, irmãos e devedores às estrelas, à luz, ao ar e à terra, pois todos esses elementos habitam e cooperam em nós e tudo está interligado e relacionado, como ensina o Papa Francisco. Paulo sublinha essa realidade quando diz que somos filhos e herdeiros de Deus em Jesus Cristo. Não somos fragmentos isolados, mas filhos da comunhão que habita todas as coisas!
Deus amável, Mistério de Comunhão sem limites, regaço de onde partimos e para onde desejamos retornar: envia teu Espírito para que, em nós, ele grite e anuncie que és pai e mãe e nos ajude a proclamar que todas as criaturas são nossas irmãs. Amor paterno, materno e fraterno, abre o nosso ser à ação do teu Espírito de comunhão, a fim de que ele nos transforme em pessoas livres e solidárias, agentes da liberdade no mundo, anunciadoras e criadoras da comunhão que associa todas as criaturas. Assim seja! Amém!
 Itacir Brassiani msf

sábado, 19 de maio de 2018

SOLENIDADE DE PENTECOSTES


Envia-nos teu Espírito de indignação profética!
Resultado de imagem para espirito santo de deusA festa de Pentecostes é a culminância da caminhada pascal.  Como a comunidade apostólica dos sagrados começos, pedimos que o Espírito realize em nós a obra do Pai e do Filho, nos dê respiro e vida, nos ensine a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas, derrube os muros que os medos e prepotências ergueram, desperte a imaginação e a indignação proféticas, abra as portas das Igrejas e as coloque em ritmo de saída. Pois é o Espírito de Deus quem cria os vínculos entre as criaturas, suscita e sustenta os processos de libertação e garante a liberdade e a criatividade.
Escrevendo à comunidade cristã de Corinto, Paulo sublinha: há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diferença de funções mas o Senhor é o mesmo; multiplicidade de ações, mas um só Deus. Por isso, não há como sustentar a supremacia do clero sobre os demais fiéis, dos católicos sobre os evangélicos, dos crentes sobre os ateus. No bojo da ventania que vem do Espírito de Jesus, caem também os muros que separam religiões pretensamente verdadeiras das assim chamadas simples crenças, como também as escadas que elevam as religiões que se auto definem verdadeiras e rotulam as demais como falsas. E são carimbadas como ultrapassadas as ideologias que separam os mundos espiritual e material.
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Uma dos traços da experiência Espírito que ficou gravada na mente dos apóstolos é o ruído de um vento forte e a imagem de línguas de fogo repousando sobre a comunidade reunida. Vento forte e línguas de fogo remetem a um dinamismo incontrolável, a uma força que move e leva adiante, a uma palavra forte e mobilizadora. São imagens que lembram o furacão da profecia, a eloquência de homens e mulheres que falam, gritam e agem em nome de sonhos e ideais que pertencem a todos. Aquele punhado de gente reunida em Jerusalém passa a falar intrepidamente e a enfrentar autoridades e sistemas constituídos...
É claro que a vida no Espírito se expressa na oração, na adoração, no canto, na consolação e na alegria, mas é claro que não se resume nisso. Jesus Cristo é o homem do Espírito, e sua proposta não é a de um guru a serviço do bem-estar individual. Ele é modelo de uma vida descentrada de si, de uma atuação absolutamente voltada às necessidades e à dignidade dos outros, de uma inserção questionadora e transformadora no palco da história. A obra do Espírito Santo no mundo não se mostra nos templos monumentais ou nas instituições sólidas, mas em homens e mulheres novos, livres e solidários.
Resultado de imagem para espirito santo de deusO Espírito é o sopro de Deus que faz novas todas as coisas, renova a face da terra. Mas ele costuma começar renovando radicalmente as pessoas que seguem Jesus Cristo, despindo-as da roupagem da indiferença, purificando-as da impureza da dominação, desautorizando aquela “velha opinião formada sobre tudo”, dispersando o pó que se acumulou sobre as doutrinas e leis, abrindo as janelas fechadas pelo medo, fazendo-as renascer no ventre da liberdade e da gratuidade. Assim aconteceu com Jesus, assim são chamados a ser aqueles que nele acreditam e receberam seu divino Sopro.
Por isso, o envio do Espírito Santo é também o lançamento missionário da comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. “Como o Pai me enviou, eu também envio vocês!” Ele nos envia com a missão de tirar o pecado do mundo e arcar com seu custo, como ele mesmo o fez, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Tirar o pecado do mundo (no singular!) significa, hoje, entre outras coisas, combater sem tréguas o vírus do ódio. Como não se preocupar com o fomento interesseiro do ódio a toda iniciativa que possa mudar minimamente a estrutura classista e excludente da sociedade brasileira?
Resultado de imagem para espirito santo de deusQuem recebe o Espírito de Jesus e por ele se deixa guiar perde para sempre a tranquilidade daqueles que se escondem atrás dos muros dos condomínios fechados e dos ritos que anestesiam e aprisionam as consciências. O Espírito fere de morte todas as formas de indiferença e fechamento! Quem hospeda o Espírito e nele renasce acaba a quilômetros de distância do imobilismo omisso, pregado em cultos frequentados por multidões sedentas de prosperidade e de cura, e se engaja, com humildade e firmeza, no caminho ecumênico, respeitando as diferenças e sonhando com o dia em que todos seremos um.
A ti, Deus pai e mãe, voltamos nossos olhos e nossas mãos para pedir, com todas as forças do nosso ser: envia sobre nós e sobre a Igreja teu divino Sopro! Sem ele, a missão não passa de conquista; a igreja atua como mera sociedade de classes; o Evangelho se reduz a lei implacável; a moral infantiliza e aprisiona; o ministério se reveste de poder e tirania; a liturgia vira arqueologia e fuga do compromisso. Envia teu Espirito para revitalizar os ossos ressequidos, sacudir as democracias vazias e questionar governos ilegítimos e saqueadores, mesmo quando se apresentam com o selo da religião. Assim seja! Amém!
 Itacir Brassiani msf

sábado, 12 de maio de 2018

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


Resultado de imagem para jornada mundial das comunicações sociaisTema: «"A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32).
Fake news e jornalismo de paz»
Queridos irmãos e irmãs!

No projeto de Deus, a comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão. Imagem e semelhança do Criador, o ser humano é capaz de expressar e compartilhar o verdadeiro, o bom e o belo. É capaz de narrar a sua própria experiência e o mundo, construindo assim a memória e a compreensão dos acontecimentos. Mas, se orgulhosamente seguir o seu egoísmo, o homem pode usar de modo distorcido a própria faculdade de comunicar, como o atestam, já nos primórdios, os episódios bíblicos dos irmãos Caim e Abel e da Torre de Babel (cf. Gn 4, 1-16; 11, 1-9). Sintoma típico de tal distorção é a alteração da verdade, tanto no plano individual como no coletivo. Se, pelo contrário, se mantiver fiel ao projeto de Deus, a comunicação torna-se lugar para exprimir a própria responsabilidade na busca da verdade e na construção do bem. Hoje, no contexto duma comunicação cada vez mais rápida e dentro dum sistema digital, assistimos ao fenómeno das «notícias falsas», as chamadas fake news: isto convida-nos a refletir, sugerindo-me dedicar esta Mensagem ao tema da verdade, como aliás já mais vezes o fizeram os meus predecessores a começar por Paulo VI (cf. Mensagem de 1972: «Os instrumentos de comunicação social ao serviço da Verdade»). Gostaria, assim, de contribuir para o esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas e para redescobrir o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade.
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1. Que há de falso nas «notícias falsas»?

A expressão fake news é objeto de discussão e debate. Geralmente diz respeito à desinformação transmitida on-line ou nos mass-media tradicionais. Assim, a referida expressão alude a informações infundadas, baseadas em dados inexistentes ou distorcidos, tendentes a enganar e até manipular o destinatário. A sua divulgação pode visar objetivos prefixados, influenciar opções políticas e favorecer lucros econômicos.
A eficácia das fake news fica-se a dever, em primeiro lugar, à sua natureza mimética, ou seja, à capacidade de se apresentar como plausíveis. Falsas mas verosímis, tais notícias são capciosas, no sentido que se mostram hábeis a capturar a atenção dos destinatários, apoiando-se sobre estereótipos e preconceitos generalizados no seio dum certo tecido social, explorando emoções imediatas e fáceis de suscitar como a ansiedade, o desprezo, a ira e a frustração. A sua difusão pode contar com um uso manipulador das redes sociais e das lógicas que subjazem ao seu funcionamento: assim os conteúdos, embora desprovidos de fundamento, ganham tal visibilidade que os próprios desmentidos categorizados dificilmente conseguem circunscrever os seus danos.
A dificuldade em desvendar e erradicar as fake news é devida também ao facto de as pessoas interagirem muitas vezes dentro de ambientes digitais homogéneos e impermeáveis a perspetivas e opiniões divergentes. Esta lógica da desinformação tem êxito, porque, em vez de haver um confronto sadio com outras fontes de informação (que poderia colocar positivamente em discussão os preconceitos e abrir para um diálogo construtivo), corre-se o risco de se tornar atores involuntários na difusão de opiniões tendenciosas e infundadas. O drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos. Deste modo, as notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidade.

2. Como podemos reconhecê-las?

Resultado de imagem para jornada mundial das comunicações sociaisNenhum de nós se pode eximir da responsabilidade de contrastar estas falsidades. Não é tarefa fácil, porque a desinformação se baseia muitas vezes sobre discursos variegados, deliberadamente evasivos e subtilmente enganadores, valendo-se por vezes de mecanismos refinados. Por isso, são louváveis as iniciativas educativas que permitem apreender como ler e avaliar o contexto comunicativo, ensinando a não ser divulgadores inconscientes de desinformação, mas atores do seu desvendamento. Igualmente louváveis são as iniciativas institucionais e jurídicas empenhadas na definição de normativas que visam circunscrever o fenómeno, e ainda iniciativas, como as empreendidas pelas tech e media company, idóneas para definir novos critérios capazes de verificar as identidades pessoais que se escondem por detrás de milhões de perfis digitais.

Mas a prevenção e identificação dos mecanismos da desinformação requerem também um discernimento profundo e cuidadoso. Com efeito, é preciso desmascarar uma lógica, que se poderia definir como a «lógica da serpente», capaz de se camuflar e morder em qualquer lugar. Trata-se da estratégia utilizada pela serpente – «o mais astuto de todos os animais», como diz o livro do Génesis (cf. 3, 1-15) – a qual se tornou, nos primórdios da humanidade, artífice da primeira fake news, que levou às trágicas consequências do pecado, concretizadas depois no primeiro fratricídio (cf. Gn 4) e em inúmeras outras formas de mal contra Deus, o próximo, a sociedade e a criação. A estratégia deste habilidoso «pai da mentira» (Jo 8, 44) é precisamente a mimese, uma rastejante e perigosa sedução que abre caminho no coração do homem com argumentações falsas e aliciantes. De facto, na narração do pecado original, o tentador aproxima-se da mulher, fingindo ser seu amigo e interessar-se pelo seu bem. Começa o diálogo com uma afirmação verdadeira, mas só em parte: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?» (Gn 3, 1). Na realidade, o que Deus dissera a Adão não foi que não comesse de nenhuma árvore, mas apenas de uma árvore: «Não comas o [fruto] da árvore do conhecimento do bem e do mal» (Gn 2, 17). Retorquindo, a mulher explica isso mesmo à serpente, mas deixa-se atrair pela sua provocação: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: “Nunca o deveis comer nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis”» (Gn 3, 2-3). Esta resposta tem sabor a legalismo e pessimismo: dando crédito ao falsário e deixando-se atrair pela sua apresentação dos factos, a mulher extravia-se. Em primeiro lugar, dá ouvidos à sua réplica tranquilizadora: «Não, não morrereis»(3, 4). Depois a argumentação do tentador assume uma aparência credível: «Deus sabe que, no dia em que comerdes [desse fruto], abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal»(3, 5). Enfim, ela chega a desconfiar da recomendação paterna de Deus, que tinha em vista o seu bem, para seguir o aliciamento sedutor do inimigo: «Vendo a mulher que o fruto devia ser bom para comer, pois era de atraente aspeto (…) agarrou do fruto, comeu»(3, 6). Este episódio bíblico revela assim um facto essencial para o nosso tema: nenhuma desinformação é inofensiva; antes pelo contrário, fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigosos.
De facto, está em jogo a nossa avidez. As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que carateriza os meios de comunicação social como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano. As próprias motivações económicas e oportunistas da desinformação têm a sua raiz na sede de poder, ter e gozar, que, em última instância, nos torna vítimas de um embuste muito mais trágico do que cada uma das suas manifestações: o embuste do mal, que se move de falsidade em falsidade para nos roubar a liberdade do coração. Por isso mesmo, educar para a verdade significa ensinar a discernir, a avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós, para não nos encontrarmos despojados do bem «mordendo a isca» em cada tentação.

3. «A verdade vos tornará livres» (Jo 8, 32)
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De facto, a contaminação contínua por uma linguagem enganadora acaba por ofuscar o íntimo da pessoa. Dostoevskij deixou escrito algo de notável neste sentido: «Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo» (Os irmãos Karamazov, II, 2).

E então como defender-nos? O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade. Na visão cristã, a verdade não é uma realidade apenas conceptual, que diz respeito ao juízo sobre as coisas, definindo-as verdadeiras ou falsas. A verdade não é apenas trazer à luz coisas obscuras, «desvendar a realidade», como faz pensar o termo que a designa em grego: aletheia, de a-lethès, «não escondido». A verdade tem a ver com a vida inteira. Na Bíblia, reúne os significados de apoio, solidez, confiança, como sugere a raiz ‘aman (daqui provém o próprio Amen litúrgico). A verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cair. Neste sentido relacional, o único verdadeiramente fiável e digno de confiança sobre o qual se pode contar, ou seja, o único «verdadeiro» é o Deus vivo. Eis a afirmação de Jesus: «Eu sou a verdade» (Jo 14, 6). Sendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homem: «A verdade vos tornará livres»(Jo 8, 32).

Libertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveis. Para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor. Por isso, a verdade não se alcança autenticamente quando é imposta como algo de extrínseco e impessoal; mas brota de relações livres entre as pessoas, na escuta recíproca. Além disso, não se acaba jamais de procurar a verdade, porque algo de falso sempre se pode insinuar, mesmo ao dizer coisas verdadeiras. De facto, uma argumentação impecável pode basear-se em factos inegáveis, mas, se for usada para ferir o outro e desacreditá-lo à vista alheia, por mais justa que apareça, não é habitada pela verdade. A partir dos frutos, podemos distinguir a verdade dos vários enunciados: se suscitam polémica, fomentam divisões, infundem resignação ou se, em vez disso, levam a uma reflexão consciente e madura, ao diálogo construtivo, a uma profícua atividade.

4. A paz é a verdadeira notícia

Resultado de imagem para jornada mundial das comunicações sociaisO melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas: pessoas que, livres da ambição, estão prontas a ouvir e, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem. Se a via de saída da difusão da desinformação é a responsabilidade, particularmente envolvido está quem, por profissão, é obrigado a ser responsável ao informar, ou seja, o jornalista, guardião das notícias. No mundo atual, ele não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão. No meio do frenesim das notícias e na voragem dos scoop, tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não estão a velocidade em comunicá-la nem o impacto sobre a audience, mas as pessoas. Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas. Por isso, a precisão das fontes e a custódia da comunicação são verdadeiros e próprios processos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de paz.

Por isso desejo convidar a que se promova um jornalismo de paz, sem entender, com esta expressão, um jornalismo «bonzinho», que negue a existência de problemas graves e assuma tons melífluos. Pelo contrário, penso num jornalismo sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas; um jornalismo feito por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz; um jornalismo que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através do aviamento de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às escalation do clamor e da violência verbal.

Por isso, inspirando-nos numa conhecida oração franciscana, poderemos dirigir-nos, à Verdade em pessoa, nestes termos:

Resultado de imagem para jornada mundial das comunicações sociaisSenhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz.
Fazei-nos reconhecer o mal que se insinua em uma comunicação que não
cria comunhão.
Tornai-nos capazes de tirar o veneno dos nossos juízos.
Ajudai-nos a falar dos outros como de irmãos e irmãs.
Vós sois fiel e digno de confiança;
fazei que as nossas palavras sejam sementes de bem para o mundo:
onde houver rumor, fazei que pratiquemos a escuta;
onde houver confusão, fazei que inspiremos harmonia;
onde houver ambiguidade, fazei que levemos clareza;
onde houver exclusão, fazei que levemos partilha;
onde houver sensacionalismo, fazei que usemos sobriedade;
onde houver superficialidade, fazei que ponhamos interrogativos
verdadeiros;
onde houver preconceitos, fazei que despertemos confiança;
onde houver agressividade, fazei que levemos respeito;
onde houver falsidade, fazei que levemos verdade.
Amen.

Vaticano, 24 de janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano de 2018.

Franciscus