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By Ferramentas Blog

VOCAÇÃO

Já pensou alguma vez que você é chamado a se comprometer com o Reino de Deus aqui na terra? Já pensou em comprometer-se com o próximo de algum jeito particular? Já pensou que esse jeito pode ser o
do Carmelo?


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Para melhor entender a Palavra

Reflexão para o 26º Domingo do TC

“São tantos os apelos que vêm dos oprimidos...”


(Am 6,1.4-7; Sl 145/146; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31)

O calendário nos lembra que a primavera devagarinho vai chegando ao hemisfério sul, mas a virulência da grande imprensa verde-amarela deixa transparecer o medo e a falta de caráter dos setores arcaicos e cínicos da sociedade brasileira. Eles não conseguem engolir que o povo faça sua própria escolha política a não ser que seja a opção por aqueles que lhe tiram a pele. Efetivamente, aqueles que sempre se lucupletaram e banquetearam, ignorando olimpicamente os milhões de pobres de cujas feridas só os cães se ocupavam, lançam mão de todos os artifícios para mudar os rumos da eleição que se aproxima. Até a religião – tanto as declarações dos fiéis ingênuos como os discursos e documentos dos hierarcas amedrontados – se transforma em munição mortal nos veículos de comunicação. Mas entre entra estas elites mascaradas e o povo se cavou um abismo que nem as montanhas de jornais repletos de acusações e de desprezo pelo povo podem encher.

“Procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão...”

Precisamos sempre de novo nos interrogar: o que estamos mesmo buscando na religião? Vários estudos sérios mostram como as pessoas simples, e não só elas, são atraídas pelos fenômenos fantásticos e miraculosos. A multiplicação de novenas e promessas, assim como o crescimento das peregrinações ao encontro do enésimo curandeiro ou milagreiro o comprovam. Por trás disso está a insegurança na qual vive boa parte do nosso povo, mas também a sedução exercida por tudo o que cheira a milagre.


E há também aqueles que buscam a religião como sustentação para interesses e projetos de dominação, desde os homens que buscam argumentos para seu machismo decadente até os políticos que caçam desesperadamente apoio para suas carreiras. Mas não esqueçamos também a erva daninha do sucesso que lança raízes em não poucas pessoas que se consagram a Deus e se apresentam para exercer o ministério em nome dele. (Nesse contexto os padres popstars prestam um péssimo serviço.)


Na carta a Timóteo proposta pela liturgia de hoje Paulo pede bem outra coisa. “Tu que és um homem de Deus, procura a justiça e a piedade, a fé, a caridade, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé...” Trata-se de juntar a piedade à prática da justiça, de unir a solidariedade à fé, de casar a mansidão com a perseverança no seguimento de Jesus Cristo, único e soberano líder que pode nos guiar a um mundo justo, fraterno e liberto.

“Ai dos que se deitam em camas de marfim, indiferentes ao sofrimento de José...”

No evangelho deste domingo, Jesus continua nos alertando em relação ao risco da aparência, do dinheiro e do poder. Ele polemiza com os fariseus, mas sua atenção está voltada aos discípulos/as. A fé na sua Palavra e a adesão aos seus ensinamentos deve mudar e qualificar nossa relação com os bens e com os pobres. Uma fé vivida unicamente como remédio para nossos males individuais ou como combustível para uma carreira de sucesso tem pouco a ver com Jesus Cristo.


O fato é que, tanto no tempo do evangelista como hoje, frequentemente há um abismo, tanto real quanto ignorado, que separa as pessoas que frequentam a mesma comunidade. É isso que aparece na parábola proposta por Jesus: há um rico que se veste rica e elegantemente e dá explêndidas festas todos os dias; e um pobre coberto de feridas, devorado pela fome, rodeado de cachorros e sentado na calçada, em frente à porta da casa do rico e absolutamente invisível a irrelevante para ele.


Esta é uma triste imagem de um Brasil ainda dividido pela miséria e pela injustiça, apesar dos esforços dos governos e outras instituições. É também um retrato de um mundo cínico e injusto, dividido entre um punhado de países opulentos e uma maioria de países empobrecidos. O profeta Amós dirige duras palavras aos primeiros: dormem em camas de marfim, comem manjares suculentos e bem vinhos finos, usam perfumes caros dedilham instrumentos musicais mas são indiferentes às dores do povo.

“Pai Abraão, tem compaixão de mim!...”

Mas no centro da vida cristã está deve estar a compaixão pelos pobres, e não a indiferença e a busca do próprio bem-estar. O caminho entre a porta e a mesa deve ser amplo e aberto. Não é possível cortar a relação entre a fé e a justiça. Jesus não aceita a indiferença dos ricos frente à (má) sorte dos pobres. Sua Palavra é clara e contundente: “Ai de vós, os ricos, porque já tendes vossa consolação!” (Lc 6,24). Ele insiste que os pobres e os sofredores devem ocupar os primeiros lugares na lista de convidados para as e celebrações (cf. Lc 14,13). Mas Lázaro nunca pode passar da porta do rico.


Soa estranho, para não dizer cínico, o pedido de compaixão do rico em meio aos tormentos. Mesmo na tragédia pessoal, ele continua achando que os pobres devem estar a seu serviço: bem que eles poderiam molhar sua língua para aliviar a sede ou avisar seus parentes para livrá-los a tempo dos males que os esperam... Não pode não ser cinismo este apelo para que os pobres tenham compaixão dos ricos que sempre se vestiram de indiferença e prepotência.

“Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento.”

O caminho para o céu é feito de terra. E aqui é preciso lembrar que indiferença corta a comunicação, destrói as pontes, cava abismos e fere de morte a colaboração solidária entre as pessoas. Será que a simples participação numa celebração religiosa, num comício político ou numa festa civil pode criar relações entre pessoas e grupos que, fora deste espaço, se ignoram, enfrentam ou exploram? Será que a água benta ou o cântico melodioso pode congregar aqueles que a indiferença separa?


É lamentável que muitos pregadores/as caiam na armadilha de uma leitura fácil e preconcebida e proponham esta parábola de Jesus como uma espécie fotografia da inversão que a morte provocaria na vida real. Jesus não está querendo falar da felicidade que espera os sofredores no paraíso ou do sofrimento destinado aos ricos depois da morte. O que ele quer enfatizar é o caráter decisivo e irreversível das opções que fazemos e das práticas que desenvolvemos no tempo presente.


É incrível como também hoje, imitando os fariseus do tempo de Jesus, tantas pessoas que se apresentam como piedosas queiram simplesmente irgnorar as palavras e ações proféticas que a Bíblia nos propõe. Muitas passam ao largo da fraqueza e da compaixão de Deus na cruz e buscam sinais milagrosos e piedosos. Mas não há outro sinal senão o de Jonas, ou seja: a conversão a um Deus despojado por amor (cf. Lc 11,29-32). Este é o único caminho digno de um discípulo de Jesus Cristo.

“Eles têm Moisés e os profetas. Que os escutem!”

Na vida cristã autêntica não há lugar para privilégios, nem para milagres. O caminho cristão é pavimentado pela escuta da Palavra de Deus e pela conversão. Jesus se demora na descrição das tentativas infrutíferas do homem rico para reverter uma situação irreversível: ignorar o abismo que ele mesmo cavou e pedir que lhe tragam água para amenizar a sede; e enviar um morto ressuscitado para convencer seus parentes da necessidade de mudar de comportamento.


Mas não há sinal poderoso ou milagre esplendoroso capaz de tocar o coração e a mente de quem se fechou em si mesmo/a e faz da indiferença uma couraça protetora. Nada pode curar aqueles/as que se fecharam hermeticamente à palavra e ao testemunho dos profetas, dos apóstolos e do próprio Jesus. Moisés soube escutar os clamores do seu povo, compartilhar suas dores e seus anseios de liberdade. Os profetas não fizeram outra coisa que lembrar e reivindicar o direito divino dos pobres. E Jesus se fez do pobre companheiro e servidor, situando-se no meio dos últimos, inclusive na cruz.


Não adianta apelar para privilégios. Deus desconhece qualquer privilégio fora da prioridade absoluta dos pobres. De nada serve protestar dizendo, ao modo de cobras venenosas e traiçoeiras: “Nosso pai é Abraão!” (Lc 3,8). Ou então: “Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças.” É preciso escutar a fundo a voz da consciência, na qual ressoa a Palavra de Deus escrita no livro sagrado: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça” (cf. Lc 13,22-30).


No final deste mês da Bíblia digamos com todo o nosso ser: “Fala, Senhor! Fala da Vida! Só tu tens palavras eternas, e nós queremos ouvir. São tantos os apelos que vêm dos oprimidos. Tu és quem liberta, o Deus dos esquecidos. Ajuda-nos a vencer a indiferença que abre abismos entre pessoas que nasceram para ser irmãos e irmãs. Ensina-nos a acolher aquilo que nos dizes através dos profetas e santos/as de todos os tempos. E que tua Palavra seja sempre a luz dos nossos passos. Amém!”

Pe. Itacir Brassiani msf

Comentando a Regra do Carmo *

“Viver em obséquio de Jesus Cristo” é assumir a causa que Ele assumiu: “Veio para fazer a vontade do Pai”. A vontade do Pai é que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, verdade que é Deus e seu Reino. Fazer a vontade do Pai dentro do contexto de cada um, e, nós desde a América Latina é decidir-nos ao seguimento de Jesus como libertador, servindo-O com uma prática libertadora dos povos, do sistema que os oprime.

É estar ao lado dos últimos, dos excluídos, dos menos favorecidos e participar de suas lutas em busca da libertação e dias melhores. Deus é o Deus de todos, mas Ele abomina o pecado pessoal e social, a opressão dos poderosos sobre os pobres. Deus não tolera diferenças sociais que clamam aos céus. E seguir Jesus é colocar-se nesta dinâmica de se preciso for, dar a vida para que o mundo, a América Latina seja uma Grande Pátria, que tenha um rosto livre, feliz, libertado das injustiças e exclusão. Que seja um continente com um rosto de irmãos.

“Viver em obséquio de Jesus Cristo”, é colocar-se ao lado dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados. Nada deve doer mais em nosso íntimo do que ver um irmão sem dignidade, desfigurado pela fome, pela exclusão, indo em busca de material reciclável, buscando pelas ruas de nossa cidade em seu pobre carrinho, cheio de papel, garrafas, e ainda pior, em busca de comida entre o lixo que os que têm mais jogam fora. Seguir Jesus é isto, é ter um coração compassivo, solidário, fraterno. E como uma carmelita de clausura pode segui-Lo assim? A Regra nos dá a infra-estrutura de como viver isto. O Carmelo nasceu assumindo a causa dos “menores”, que no início do século XIII eram os pobres. Os carmelitas se identificaram com eles e se tornaram mendigos. Até hoje continuamos uma Ordem de mendicantes que vivem apenas do necessário. Mas o Carmelo não possui uma rica mística e espiritualidade? Sim, porém toda mística e espiritualidade passam pela “opção preferencial pelos pobres” (Puebla).

Ir. Rejane

Aniversários

Ontem e hoje a comunidade acordou em festa, pois duas irmas estream idade nova. Abaixo seguem algumas fotos 
Parabéns às irmãs aniversariantes!



Irmã Paula esteve de aniversário ontem, 23

Irmâ Elisabete hoje, 24













O dia de ontem, no aniversário de Ir. Paula, a comunidade cantando os parabéns


A hora das saudações


Ir. Elisabete, apagando as velinhas. Atenção!! Ela completou 45 e não ao revés...

Recebendo a saudação de Ir. Ma. Teresinha


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

42 Anos!

O NOSSO CARMELO COMPLETA HOJE 42 ANOS DE EXISTENCIA!!
NOSSO MUITO OBRIGADO PRIMEIRAMENTE AO BOM DEUS QUE SUSTENTA ESTA OBRA E A TODOS OS AMIGOS QUE SE FIZERAM PRESENTE AO LONGO DE TODO ESTE TEMPO, E TAMBÉM AOS QUE CONTINUAM NOS OFERECENDO SUA AMIZADE E APÓIO.



O CORAÇÃO DE JESUS NOS ABENÇÕE A TODOS!
CONTEM SEMPRE COM NOSSA ORAÇÃO!

Renovando os votos


Hoje, 17 de Setembro, nossa comunidade acordou em festa. O nosso Carmelo completa 42 anos de fundãção e, além disso Ir. Milagros renovou os votos na linda Missa matutina, presidida pelo Pe. Rodolfo Ceolin, MSF. Queremos partilhar com vocês algumas idéias colocadas por ele na Homilia, a homilia toda foi muito linda e profunda!

"A resposta da consagração, da entrega, é em razão da certeza primeira que Deus nos ama e que nos escolheu por primeiro. A entrega é dinâmica, cada vez mais ele se aprofunda e se consolida. A gente cresce e a experiência vai se tornando mais forte, por força do Amor Maior.

O amor de Deus te alcançou, Irmã Milagros e tu não fugiste. Amar é deixar-se amar. E muitas vezes nós resistimos ao Amor, para não precisar amar também.
A leitura aos Filipenses 3, 8-14 é própria para este momento: “Eu considero tudo como perda”. Se a pessoa não se desprende e não se expõe a renúncias, a ela não chega a meta, que é a perfeição, a justiça. Paulo diz que deixa tudo para tornar-se semelhante a Jesus Cristo. E tu, que também foste conquistada por Jesus, esquece o que fica para trás e te lança para a meta.
A renovação dos Votos significa que tu retomas a fidelidade ao seguimento.
O mundo hoje, prega a autonomia e a liberdade, e nós fizemos voto de obediência. O mundo oferece tantas coisas modernas, de consumismo, nós fazemos votos de pobreza. E, enquanto o mundo faz e inventa tantos medicamentos para despertar a sensualidade, nós fazemos voto de castidade, de virgindade.
Que tua vida Irmã Milagros, como a de todas as Irmãs deste Carmelo, seja como a de Jesus, que se partilha a Si mesmo, se dá na gratuidade do Amor”.

Eis algumas fotos do acontecimento!








Renovando os votos nas mãs de Ir. Maria, nossa Priora



Na Comunhão


Com o Pe. Rodolfo, no final da Missa

No refeitório ornamentado por Ir. Veridiana.

Comentando a Regra do Carmo *

*Regra dos Irmãs e Irmãs da Bem - Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo

“Em diferentes ocasiões e de diversas maneiras (cf. Hb 1,1) os santos Padres estabeleceram de que forma cada um, em qualquer Ordem ou modo de vida religiosa que escolha, haja de viver em obséquio de Jesus Cristo (cf. 2Cor 10,5), servindo-o fielmente com puro coração e reta consciência (cf. 1Tm 1,5). Mas como nos pedis que, segundo o vosso propósito, vos demos uma fórmula de vida que estejais obrigados a guardar daqui por diante” (Regra2).

Alberto introduz assim os carmelitas no rio da Tradição da Vida Religiosa. Os santos Padres deixaram múltiplas escolhas para seguir a Jesus Cristo. Os carmelitas querem algo novo, por isso expõe a Alberto o seu propósito de viver em obséquio de Jesus Cristo. O que é, pois, “viver em obséquio de Jesus Cristo?”.

“Viver em obséquio de Jesus Cristo” era uma expressão muito usada naquele tempo para designar o novo tipo de vida que queriam levar. Viver em obséquio significa viver sendo um dom, um presente a Jesus Cristo. Significa fazer da vida uma doação ao Senhor e aos irmãos. Viver em obséquio significa seguir Jesus. Isto nos remete de modo genuíno ao Evangelho, aos que Jesus por primeiro chamou a segui-lo: Pedro, André, Tiago, João, Filipe, Natanael, e todos os outros seguidores de Jesus. Jesus é o Mestre. Como Mestre escolhe seus discípulos, o que é algo novo, pois em Israel havia muitos mestres, e eram os discípulos que escolhiam o mestre. Jesus inverte a lógica.
Podemos perguntar-nos o que é hoje “viver em obséquio de Jesus Cristo?”. É, sobretudo fazer da vida um dom, e isto é algo desafiante para a sociedade pós-moderna. Todo mundo pensa em guardar sua vida para si. Empenhar todas as forças para conseguir seus próprios interesses. Aqui entra a radicalidade da vida carmelitana: deixamos tudo para seguir a Jesus Cristo, isto é, para estar inteiramente livre para viver seu Projeto, numa vida inteiramente despojada. Despojada da vontade própria, dos bens materiais, de constituir família, despojada até da própria liberdade. A liberdade agora tem novas dimensões: estar inteiramente disponível para fazer a vontade de Deus. Vontade de Deus que se manifesta no dia a dia nas atividades cotidianas que temos para desempenhar e assumir. É estar inteiramente livre para o Senhor, só para Ele.

Ir. Rejane

“Palavras santas do Senhor eu guardarei no coração.”

Reflexão Dominical (25º TC)
(Am 8,4-7; Sl 112/113; 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13)

Palavras e imagens poderosas e sedutoras martelam em nossos ouvidos e solicitam nosso olhar. Críticas mordazes e suspeitas alimentadas por interesses escusos são repetidas como refrão de uma ladainha. É isso que vem dando o tom na campanha política que envolve o povo brasileiro. Como ouvir, guardar e entender a Palavra viva de Deus em meio a tantos rumores? Será que o mês dedicado à Bíblia não pode nos ajudar numa crítica mais profunda das nossas práticas e instituições e num olhar mais esperançoso e transformador destas realidades? De fato, a Palavra de Deus não é simplesmente uma palavra a mais em meio a tantas outras, mas o sentido profundo e transcendente de todos os anseios e palavras verdadeiramente humanas. A Palavra de Deus está encarnada nas palavras humanas, assim como a ação de Deus se conjuga com a ação humana que cria comunhão e promove a liberdade.

“Quando passará a lua nova, para vendermos bem a mercadoria?”


Vivemos numa sociedade de simulação e de consumo. Nada melhor que o tempo de campanha política para trazer a simulação à luz do dia. Todos os postulantes às funções públicas, legislativas ou executivas, fazem questão de se mostrarem devotados agentes públicos, amigos de todos, servidores dos pobres. É como se quisessem fazer da política um sacerdócio e dedicar a vida pelos oprimidos. A realidade é colorida ou reduzida a preto e branco, de acordo com os interesses partidários ou pessoais. As palavras mais encobrem do que revelam aquilo que se esconde no íntimo dos candidatos. Tudo é simulação.


Mas a política está inserida num contexto mais amplo que é a sociedade de consumo. Tudo é regido pela lei do mercado, tudo existe para ser consumido e substituído o mais rapidamente possível. O consumo é a alma deste mundo sem coração e a mina de onde é extraído o ouro da riqueza de poucos à custa da ruína de muitos. E esta tentação seduz até a religião e a política. Todos esperam impacientes o momento oportuno para alterar as regras e dominar os pobres com dinheiro e os humildes com promessas, óculos, camisetas, sandálias ou bênçãos e curas fáceis.


Que lugar têm os pobres e que sentido tem a vida deles nesta sociedade? Nenhum. Até pouco tempo eles serviam como combustível humano nas máquinas e processos industriais, como mercadoria humana no mercado onde se comercializava a mão de obra. Agora a automação tomou o lugar deles, com menos custo e sem o incômodo dos olhares famintos ou das greves desestabilizadoras. Os pobres não servem mais nem como consumidores, pois um só consumidor rico vale por noventa e nove consumidores miseráveis. Servem apenas como votantes, e isso enquanto o voto for obrigatório.


“Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar seus bens.”


Como iluminar esta realidade com a luz da Palavra de Deus? A parábola que Jesus apresenta hoje aos seus discípulos é muito complexa, mas pode nos ajudar. Temos ainda bem presente na memória e no coração as parábolas que Jesus nos propôs no último domingo como defesa da sua prática solidária com os pobres e excluídos. Como esquecer a figura daquele pai que esbanja atenção, dinheiro e compaixão na festa de acolhida do filho que chegara a disputar a ração dada aos porcos?


A parábola de hoje coloca em evidência um protagonista muito diferente: um administrador acusado de esbanjar os bens que não lhe pertenciam e, por isso, estava ameaçado de demissão. Ciente de que não estava preparado para outro trabalho e recusando-se a pedir esmolas ele agiu com esperteza e rapidez: alterou o montante da conta em favor de alguns devedores e prejudicando mais ainda seu patrão. Com isso, esperava que no futuro os devedores por ele beneficiados saberiam retribuir solidariamente seu gesto de bondade.


O que surpreende e desconcerta é que a esperteza do administrador recebe um elogio explícito do patrão (e do próprio Jesus). Há quem explique o elogio a esta ação aparentemente imoral levantando a hipótese de que o desconto de 50 e 20% corresponde aos juros iníquos cobrados pelo credor ou à comissão à qual o administrador tinha direito. Seria isso mesmo? Ou Jesus estaria propondo outra mensagem, semelhante àquela do pai que gasta sem critérios para acolher e restabelecer a dignidade do filho que havia descido ao inferno social?


“Usai o dinheiro injusto para fazer amigos...”


A questão fundamental que Jesus nos apresenta com esta parábola é como usar adequadamente os bens, as honras e o prestígio. A palavra clara e corajosa de Amós traz à luz do dia as práticas de acúmulo que os ricos tentam esconder nas sombras da noite ou nas franjas de uma hipocrisia deslavada. Mas deixa claro que somos apenas administradores de bens que não nos pertencem e que, frente ao bem maior do Reino de Deus, o dinheiro é coisa de pouco valor e radicalmente injusta.


O administrador aparentemente desonesto é elogiado porque evita ser amigo do dinheiro (como os fariseus) e se mostra amigo das pessoas. Com ele nós aprendemos que o dinheiro que passa pelas nossas mãos, bolsas e contas não nos pertence e precisa ser usado corretamente: para beneficiar a pessoa humana, todas as pessoas, começando pelas mais necessitadas. A ação do administrador é claramente oposta àquilo que fazem os comerciantes denunciados pelo profeta Amós.


Aquilo que parece esbanjamento e desonestidade é pura sabedoria evangélica. Precisamos desenvolver nossas responsabilidades no mundo da economia – produção, administração, distribuição e consumo – com critérios evangélicos. E o critério fundamental é este: os bens estão a serviço de uma convivência humana sadia e solidária. Desviar para os bens econômicos o amor que devemos às pessoas é uma loucura que compromete nossa felicidade pessoal e destrói os laços sociais.


“Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.”


Precisamos fazer a escolha certa no tempo certo. O momento presente é decisivo em nossa vida. O passado se foi, o futuro ainda está para chegar, mas o presente urge e solicita nossa intervenção sábia. Existem cristãos que construíram sua moradia no passado, e dela não saem para nada. E outros se refugiam no futuro, onde vivem num mundo de fantasia. E quando este futuro é chamado de vida eterna e revestido com esfarrapadas roupas de piedade a mudança é quase impossível.


O uso esperto e sábio dos bens econômicos é que nos habilita a administrar o bem verdadeiro, o Reino de Deus. Esta é a lição que Jesus dá aos cristãos e à Igreja. É intolerável que uma instituição que se legitima unicamente como administradora do Reino de Deus siga impondo fardos aos mais pobres, beneficiando os poderosos, excluindo e criminalizando aqueles que não podem seguir estreitas regras morais, nem sempre evangélicas, enquanto que Paulo nos lembra que Deus quer que todos se salvem!...


O tempo é breve e os bens não nos pertencem! O próprio Jesus veio ao mundo como herdeiro e administrador das coisas do pai e não fez outra coisa que diminuir e cancelar os débitos das pessoas que os sistemas sempre criminalizaram. Mas a maioria das igrejas dá a impressão de que foram enviadas para aumentar estas contas ou cobrar comissão para renegociá-las... Em vez de fazer amigos, criar vínculos e construir espaços de liberdade eles engordam suas contas bancárias e aumentam o poder.


“E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza.”


É impossível amar Deus e viver em nome Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, dobrar os joelhos diante da riqueza, do poder e do prestígio. Ninguém pode adiar impunemente a necessidade de decidir entre Deus e o dinheiro. Precisamos aprender de Jesus o que significa ser esperto e sábio. A Palavra de Deus é penetrante como uma faca de fio duplo: vai até a medula e separa o que é bom e o que é ruim. Tomemos como orientação e guardemos estas palavras santas no coração, mesmo quando são duras, como as do profeta Amós.



Senhor, tua Palavra é santa e nos ensina sabedoria.
Senhor, tua Palavra é santa e nos ensina a sabedoria. Queremos guardá-la e pô-la em prática em todas as circunstâncias da nossa vida. Ensina-nos a contar adequadamente o tempo e avaliar corretamente o valor das coisas. Concede-nos a coragem de desmascarar os males que nos são propostos em belas e sedutoras embalagens. Confirma-nos no serviço a ti, único e supremo bem, mantendo-nos no serviço àqueles/as que são excluídos/as da mesa de todos e recebem apenas as migalhas que sobram. Que nossa comunidade atualize tua ação de levantar o indigente da poeira, retirar os pobres do lixo e fazê-los sentar entre os nobres do teu povo.

Pe. Itacir Brassiani msf

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Comentando a Regra do Carmo *

Ir. Rejane, a partir de hoje, começa a partilhar conosco belas reflexões suas sobre a nossa Regra. Cada semana publicaremos um fragmento de seus escritos. Não percam!!


* Regra da Ordem da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo


A Regra do Carmo é antes de tudo uma “norma de vida”. Traz os grandes traços do esquema da vida diária das carmelitas. É a menor regra que a Igreja já aprovou, e é uma carta, assim como toda Bíblia é uma carta de Deus para nós. Hoje diríamos um e-mail, um site, um blog... Isso nos evoca que Deus é comunicação. Deus não é alguém centrado e fechado unicamente sobre si. Na teoria do zimzum de Deus, é Deus que abre espaço dentro de si e cria o Universo, cria o homem e a mulher para estarem em comunhão com Ele. É dentro desta dinâmica que precisamos ler e meditar a Regra do Carmo: Deus que se comunica.
A Regra, como as cartas de Paulo, começa com uma saudação: “Alberto, por graça de Deus, Patriarca de Jerusalém, aos queridos filhos em Cristo B(rocardo e demais religiosos eremitas que vivem debaixo da sua obediência no Monte Carmelo, junto à fonte (de Elias), saúde no Senhor e bênção do Espírito Santo”. Mas, quem é Alberto? Alberto de Avogadro, canonizado pela Igreja, foi proclamado santo. Nasceu por volta de 1150, na Itália. Foi consagrado dos Cônegos Regulares de Santa Cruz. Foi bispo, e depois em 1205 foi eleito Patriarca de Jerusalém. Chegou à Palestina no início de 1206, morou em Accon (Acre) porque naquele tempo Jerusalém estava ocupada pelos sarracenos. Foi um pacificador não só entre cristãos, mas também entre os não-cristãos. Foi assassinado em 14 de setembro de 1214.
A Carta que Alberto escreve aos carmelitas não é ainda uma Regra, é apenas uma norma de vida. Ela levou 40 anos de vivência antes de ser aprovada, como a travessia do povo de Israel pelo deserto. Foi escrita no ano de 1207 e aprovada em 1247 pelo Papa Inocêncio IV.
Alberto era um homem santo. Com humildade reconhece que os serviços que tem na Igreja são graça de Deus; por isso ele apenas é um servidor fiel. Homem de coração terno, com um coração de Pai, chama os carmelitas de “filhos queridos”. Alberto não escreve simplesmente o que lhe vem na mente. São os carmelitas que lhe expõe seu propósito de vida, e ele escreve segundo este propósito. Alberto era um homem transbordante da Palavra de Deus. Cita-a com liberdade e grande familiaridade. São nada mais, nada menos que cem vezes que a cita ou se refere a ela com criatividade e fidelidade.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

“Só tu tens palavras eternas, queremos ouvir!”

Reflexão Dominical


(Ex 32,7-14; Sl 50/51; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32)


“Palavras de salvação somente o céu tem pra dar”, canta o Pe. Zezinho. “Só tu tens palavras eternas, queremos ouvir”, cantamos em nossas comunidades. Estas palavras de salvação e de eternidade são sempre boa notícia que desperta, sustenta, orienta. Mas são tudo, menos palavras fáceis e apaziguadoras. A Palavra de Deus, que se faz grito no clamor dos pobres e interpelação na boca dos profetas, nos chama ao essencial, nos leva ao encontro conosco mesmos, nos coloca nus diante da nossa vocação de cristãos. É palavra de vida eterna exatamente porque nos arranca da comodidade dos esconderijos que construímos com nossos interesses e desculpas. É palavra de salvação porque nos recorda que, aos olhos de Deus, não pode existir senão uma humanidade única e indivisa. E este desejo de Deus se transforma na utopia que move nossos passos.


“Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar.”


Jesus Cristo é a palavra de Deus feita carne defitivamente, o ‘sim’ irrevocável de Deus à humanidade. Nele todas as promessas de Deus se unificam e se deixam tocar. Nele o verbo deixa de ser conceito e se torna ação. Em Jesus Cristo Deus liberta falando e fala libertando. Sua ação libertadora se condensa no resgate da cidadania dos excluídos e a Palavra vivificante se resume no anúncio do início de um tempo regido pela gratuidade e pela compaixão.


Paulo escreve a Timóteo, recolhendo a experiência pessoal e das comunidades, e referindo-se à ação libertadora e gratuita de Deus em Jesus Cristo, diz: “É digna de fé e de ser acolhida por todos esta Palavra...” É isso que, não obstante as severas adevretências de Jesus que meditamos no último domingo, faz com que “todos os publicanos e pecadores” aproximem-se de Jesus para escutá-lo e se confraternizar com ele. Todos queriam ouvir Jesus, convictos de que só ele tinha “palavras eternas”.


“Os fariseus e escribas, porém, murmuravam contra ele.”


A Palavra e a ação de Jesus trazem à tona uma divisão tão real quanto inaceitável: de um lado – que é o lado de fora ou a parte de baixo da pirâmide social – estão os chamados ‘publicanos e pecadores’; e do outro – o lado de dentro ou o topo da pirâmide – estão os considerados justos, aqueles que se dispensam de qualquer movimento de conversão. Na ideologia religiosa de Israel, os primeiros eram da parte do mal, os ímpios ou impuros; os segundos, eram os piedosos e puros, gente de bem.


Com sua palavra e sua ação, Jesus não cria nem aprova esta divisão. Mas também não passa ao largo, não fecha os olhos como se nada existisse. Fiel à sua experiência de Deus, que coincide com a tradição profética, se aproxima e se coloca ao lado do grupo dos pecadores e impuros. E mais: afirma com todas as letras que os últimos são os primeiros, que a pedra rejeitada é a principal peça na construção do Reino de Deus, e que nenhum dos primeiros convidados provará do seu banquete.


É isso que Jesus ilustra com as três eloquentes parábolas do evangelho de hoje. As pessoas tachadas de pecadoras são como uma ovelha perdida, procurada com incomparável empenho pelo pastor. Ou como uma pequena moeda extraviada e procurada incansavelmente por uma dona de casa. O que importa não é o que levou ao extravio, mas a alegria do pastor e da dona de casa que as encontram. “Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida... Encontrei a modeda que tinha perdido!”


“E o pai dividiu os bens entre eles...”


Precisamos ser prudentes e inteligentes para não entrar por uma porta inadequada. A terceira parábola não quer focalizar a presumível culpa e o processo de conversão do filho mais jovem. Se fosse assim, a parábola poderia comelar dizendo “um homem tinha um filho desobediente...” Falando de dois filhos, Jesus estabelece uma clara correspondência com os dois grupos que se dividem em relação a ele: os pecadores, que se aproximavam para escutá-lo; os fariseus que murmuravam contra ele.


A parábola parte aparentemente dando razão aos fariseus e escribas. O filho mais novo pede sua parte da herança, vai embora e gasta tudo sem o menor controle. Mas todos os bens pertencem a Deus, que os divide igualmente entre seus filhos. A justiça de Deus porém não se resume nisso; não é uma formalidade fria e cega, indiferente às diferenças e sofrimentos concretos das pessoas.


A situação daquele personagem fictício, empregado na criação de porcos em terra estrangeira, faminto a ponto de desejar alimentar-se com a ração dada aos porcos, ressalta mais sua situação de miséria e exploração que sua culpa. O prostramento é tal que ele acaba se convencendo de que perdeu todos os direitos e se resigna a ser tratado como empregado na casa do próprio pai. Eis a experiência subjetiva dos doentes, estrangeiros, pecadores, mulheres e tantos outros no tempo de Jesus.


“Seu pai o avistou e foi tomado de compaixão.”


Esta palavra de Jesus sublinha que aos olhos de Deus não existe primeiro e terceiro mundos, gente de primeira classe e gente absolutamente desclassificada, filhos/as cheios/as de direitos e filhos/as deserdados/as. Para Deus a humanidade é indivisível. Tendo avistado de longe o filho miserável, antes de qualquer palavra de arrependeimento ou submissão, o pai vai ao seu encontro absolutamente comovido. E quando o filho recita o refrão da culpa introjetada, o pai nem lhe dá ouvidos.


Se há uma reviravolta nesta história, esta é representada pelo pai e não pelo filho. Deus se recusa a aceitar uma humanidade dividada entre uns poucos que se presumem irrepreensíveis, merecedores de todos os bens, e uma multidão que deve repetir o refrão das culpas que lhe atribuem e mendigar a simples sobrevivência. Deus rompe com as regras de uma justiça estreita e escancara as portas de sua casa aos necessitados e pecadores. E não está nem aí com a murmuração dos descontentes.


Infelizmente, por comodidade ou por maldade, continuamos a tolerar um mundo dividido, e raramente nos incomodamos com os 2/3 da humanidade que padece e sobra. E nos justificamos carimbando-os de indolentes e imprevidentes, imorais e impuros, infiéis e irresponsáveis (e tantos outros ‘i’). Na cabeça de muitos/as e na pregação de alguns, Deus é um promotor que acusa, um juíz que condena, um credor que cobra, um rei que não se interessa pela plebe, mesmo que viva pior que seus cães e porcos.


“Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés...”


A missão de Jesus Cristo consiste em abrir as relações sociais e instituições para que todos os seres humanos, a começar pelos últimos, tenham plena cidadania. Como as 100 ovelhas e as 10 moedas formam unidades que não podem ser divididas, para ele a humanidade é uma só, e não contam as diferenças de crença, de nacionalidade, de orientação sexual, de idade, de escolaridade. O que conta e precisa ser mudado é a divisão entre um grupo de privilegiados e uma maioria de excluídos.


Na parábola, as ações aparentemente exageradas do pai sublinham exatamente isso. Ele não se restringe a ajudar o filho a sobreviver: não lhe dá uma roupa qualquer, mas a melhor túnica; não mata um simples novilho, mas o mais gordo; e lhe dá o anel com o brasão da família, assegurando-lhe a dignidade de membro pleno da família. E uma ação de resgate da cidadania e inclusão social como essa precisa ser solenemente festejada, sem dar atenção aos que se recusam a participar.


Na postura e nas palavras do filho mais velho ressoam os protestos e a presunção dos fariseus e escribas de todos os tempos e latitudes. “Estou bem porque trabalhei, acumulei porque economizei. Os demais estão mal porque fizeram por merecer. Que se danem!” Mas, através de sua Palavra, Deus não se cansa de convidar também a estes a participar de sua alegria pelo acesso dos últimos a uma vida mais digna, pela reintegração dos que trazem na pele e na alma as marcas da exclusão.


“Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro...”


Não há santo sem passado, nem pecador sem futuro. Todos necessitamos e dependemos do amor para alcançar a maturidade e a liberdade, e este amor não vem de nós mesmos, mas de fora, dos outros, de Deus. Paulo faz questão de lembrar seu passado de ignorante, blasfemo e perseguidor. Foi pela graça abundante e imerecida de Deus que ele se tornou apóstolo. Jesus Cristo teve paciência com ele, não lhe negou sua misericórdia e fez dele um exemplo digno de ser imitado.


Dirigimo-nos com confiança a ti, Senhor. Tem paciência conosco, mas não permite que nos fechemos em nós mesmos e nos interesses do nosso grupo. Só tu tens palavras de vida, e nós precisamos ouvi-las. Vem ao nosso encontro, toma-nos pela mão e faz que entremos na tua casa e participemos da festa de acolhida daqueles que estavam perdidos e foram encontrados, estavam mortos e voltaram a viver.

Pe. Itacir Brassiani msf

Visita do Provincial

Nos dias 8 e 9 recebemos a sempre agradável visita de nosso Pe. Provincial, Fr. Gilberto. Durante a recreação mostrou-nos as fotos que conseguiu reunir para lembrar os 100 anos de presença dos Frades Carmelitas Descalços no Sul do Brasil.
Suas conversas, como sempre, cheias de simplicidade, sabedoria e alegria!






sábado, 4 de setembro de 2010

Para melhor entender a Palavra

Reflexão Dominical

“Pela Palavra de Deus saberemos por onde andar.”



(Sb 9,13-18; Sl 89/90; Fm 9-17; Lc 14,25-33)


Estamos em época de campanha política e em plena semana da pátria. Em tempos como este as palavras costumam ser sedutoras, repetidas exaustivamente como cântico de sereia nas praças e monitores, frequentemente acompanhadas de imagens e efeitos especiais. O objetivo de vencer o pleito pode levar os/as candidatos/as a inflacionar as promessas e omitir os custos. A evocação seletiva e a maquiagem dos feitos do passado, junto com o apelo à grande vocação atual do país, pode induzir a um orgulho vazio e submisso. Mas eis que Jesus Cristo, a Palavra viva de Deus, irrompe para estragar a festa (de alguns) e chamar a atenção para as consequências da palavra dada e para os custos da realização das nossas utopias e decisões. Ele nos confia seu Evangelho, luz que indica o caminho da vida.


“Os pensamentos dos mortais são tímidos, e nossas providências incertas.”


A cultura que rege as pessoas numa sociedade de consumo como a nossa não costuma chamar a atenção para a prudência e para o planejamento. A ‘caderneta de popuança’, com seu apelo a economizar e planejar, é coisa do passado. Hoje reina absoluto o ‘cartão de crédito’, um permanente e sedutor convite a gastar sem controle e sem planejamento, seguindo apenas os insaciáveis desejos de consumo. Fazer as contas é coisa de um tempo que não volta mais.


O que predomina e se impõe como regra é curtir e saborear a fundo o momento presente, sem preocupação com princípios e hábitos formulados por outros no passado, nem com aquilo que será no futuro. O passado não existe mais, o futuro ninguém sabe como será, o presente é breve e fugaz. Importa desfrutá-lo ao máximo e inocentemente, sem perguntar quem pagará a conta em termos humanos, econômicos e ambientais. Consumamos e deixemo-nos consumir...


Esta forma de viver vai contaminando lentamente (ou rapidamente!) a vivência da fé. Observando a prática de muitas pessoas e o apelo de alguns movimentos e Igrejas, somos levados a concluir que o que importa é viver momentos de intenso gozo e satisfação, relativizando o passado e desistindo de pensar no futuro. E o único custo dessa libertação gostosa é a fidelidade no dízimo mensal e a generosidade econômica nas ofertas de cada semana.


“Se alguém de vós quer me seguir...”


É consciente e consequente nossa decisão de seguir Jesus Cristo? É claro que para a maioria de nós o início de tudo não está ligado a uma decisão pessoal, consciente e madura. Recebemos a fé cristã e católica misturada ao leite que sorvemos do seio da mãe, ligada aos hábitos da nossa vizinhança, conjugada com a cultura trasmitida pela escola. Seguimos esta estrada porque nos parecia a única, e o fizemos como ovelhas indiferenciadas de um rebanho. Era difícil e custoso trilhar outras sendas.


Mas nós crescemos e os tempos mudaram. O pluralismo de opções que batem à nossa porta ou se oferecem aos nossos olhos todos os dias nos interpelam à aventura noutras estradas ou a dar razões para permanecer naquela que trilhamos. E o nosso conhecimento maduro e esclarecido do Evangelho nos pede prudência e avaliação crítica diante de atitudes e projetos que se travestem de sabedoria e se apresentam como evangélicos e de humanizadores.


“Quem não carrega a sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo.”


A vida de quem se dispõe a seguir os passos de Jesus Cristo não é apenas alegria e festa. O Evangelho não se resume a um convite a erguer as mãos e dar glórias a Deus. E o cristianismo não se identifica também com a sisudez dos homens e mulheres que parecem dar as costas à história e caminhar na ponta dos pés, com as mãos juntas em piedosa posição, os olhos fixos no céu (que garante as honras do mundo) e a vida assegurada pelos títulos de créditos e de propriedade.


Caminhando resolutamente em direção a Jerusalém, Jesus recorda aos discípulos de ontem e de hoje que a decisão de segui-lo tem seus custos. Estar com ele e seguir seus passos supõe a decisão por uma específica escala de valores: a honra pessoal, a aceitação pública, a segurança dos bens e os próprios vínculos familiares são secundários em relação à prioridade absoluta de acolher e praticar a escala de valores do Reino de Deus. A Palavra viva de Deus, feita carne em Jesus, nos mostra por onde andar.


Tomar a cruz e caminhar no rastro de Jesus significa estar disposto a enfrentar a rejeição dos grandes e poderosos, libertar-se da busca infantil de cargos e honras e contar com o próprio fracasso dos empreendimentos pessoais e institucionais. Preferir Jesus Cristo ao pai, à mãe, à mulher ou marido e aos filhos e filhas significa viver as relações familiares fora dos moldes patriarcais, no horizonte da geração de um mundo de irmãos (como testemunha Paulo em relação a Onésimo e Filemon).


“Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.”


Uma bagagem pesada acaba dificultando a caminhada, especialmente se for longa e por estradas acidentadas. E os bens acumulados podem pesar muito e levar a parar à beira estrada, a desistir da viagem e construir uma casa confortável e segura. Não se trata apenas de imóveis, móveis e automóveis, mas também de títulos de crédito e de cidadania, de cartas de crédito, de honras e compromissos que impedem a liberdade e a solidariedade.


Jesus conclui sua lição com uma afirmação radical e de longo alcance: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Ele sabe muito bem – e nós também intuímos, mas exorcisamos apressadamente esta percepção – que o problema não é possuir os bens ou consumir de modo maduro e consciente, mas deixar-se dominar totalmente pelos bens e pelo consumo, como se o sentido da nossa vida dependesse deles.


A necessidade de renunciar a tudo está ligada ao seguimento de Jesus. A renúncia é um meio para percorrer um caminho que conduz à vida abundante, tanto para si mesmo como para os outros. Renunciar a tudo significa limpar a casa, abrir espaço, ordenar as prioridades e orientar-se pela prática e pela proposta de Jesus. Ele é a Palavra de Deus. É por ele que saberemos por onde andar. Ele é luz e verdade, mas é preciso acreditar e tirar as consequências.


“Senta primeiro e examina bem...”


Precisamos avaliar e fazer as contas: dispomos de recursos e estamos dispostos/as a pagar os custos do seguimento de Jesus Cristo nas estradas deste mundo de relações líquidas e flutuantes? A primeira impressão, especialmente depois de ouvir as parábolas do construtor e do rei em guerra, é que Jesus quer desencorajar os discípulos. Na verdade, o que ele quer é que avaliemos bem as exigências do reino de Deus, seja antes de começar a caminhada, seja no momento atual da nossa vida.


É possível que, como a maioria dos cristãos, tenhamos começado sem uma decisão esclarecida e madura. Mas hoje, com o acesso que temos à Palavra de Deus, à teologia e ao ensino da Igreja não podemos permanecer na fácil superficialidade ou buscar refúgio nos hábitos e costumes ou nas versões interesseiramente conservadoras do cristianismo. Passou o tempo do ufanismo triunfalista, ao estilo dos discursos da semana da pátria e das palavras agradáveis dos palanques.


O assassinato dos cinco médicos ocidentais no Afeganistão em agosto passado é um sinal eloquente de que o seguimento de Cristo tem seus riscos. Mas o perfeito casamento que muitos pretendem celebrar entre o seguimento de Jesus Cristo e a mentalidade capitalista, consumista, indiferente e escludente talvez seja ainda mais perigosa e destruidora. É tempo de avaliar e fazer as contas: temos condições e estamos dispostos a assumir a escala de valores de Jesus e realizá-la em todos os âmbitos da vida?

“Recebe-o como se fosse eu mesmo...”


O sábio se pergunta como podemos conhecer os projetos de Deus. O Espírito Santo revelou estes projetos de Deus em Jesus Cristo. Ele nos ensina a contar bem os nossos dias, a avaliar bem as possibilidades e exigências do nosso tempo. Mesmo dentro do império romano, para o qual a escravidão era legal e necessário, Paulo ousou romper com o hábito e tratou Onésimo, um escravo fugitivo, como seu filho e irmão, pedindo que Filemon o respeitasse como respeitava o próprio Paulo.


Por isso, pedimos ao Jesus Cristo, nosso irmão e caminho de vida: Alimenta-nos diariamente com a tua Palavra. Ensina-nos por onde andar. Vem em nosso auxílio para que compreendamos as exigências do seguimento dos teus passos e saibamos renunciar a tudo o que nos afasta ti. E que teu apóstolo e nosso irmão Paulo nos estimule a lançar as sementes da igualdade num mundo dividido e desigual. Amém.


Pe. Itacir Brassiani msf

A PALAVRA DE DEUS NO CARMELO

Iniciamos o mês dedicado à Biblia, por isso, Ir. Rejane nos presentéia com uma belíssima reflexão sobre a Palavra de Deus no Carmelo. Bom proveito!
A Palavra de Deus ocupa no Carmelo um lugar de destaque muito especial. Ocupa no centro, o coração da carmelita. Sem Palavra de Deus não existe fé, nem espiritualidade, nem cristianismo. A Palavra é central na vida dos que creem. Ela é a revelação de Deus, de Si mesmo na história humana: Deus escolheu um povo, e a ele se revelou. Escolheu uma terra, a Terra Santa; lugar onde também tem origem a Ordem dos Carmelitas, isto é, o Monte Carmelo.

A Regra do Carmo, isto é, a Regra das carmelitas e dos carmelitas, onde aparece o propósito dos primeiros carmelitas de “viver em obséquio de Jesus Cristo” (Regra 2), cita com muita liberdade, familiaridade e em abundância a Palavra de Deus. Quando a Regra fala numa das questões mais importantes da vida da carmelita, que é a oração contínua, pede-nos que, “permaneça cada uma em seu quarto ou junto dele, meditando dia e noite na lei do Senhor (cf. Sl 1,2; Jo 1,8) e velando em oração” (cf. 1Pd 4,7. cf. Regra 8). Vemos assim na centralidade de nossa espiritualidade e carisma a Palavra de Deus, a lei do Senhor. É a Palavra de Deus que nutre nossa vida. É a ela que nos abrimos diariamente para escutar na Celebração Eucarística e na Liturgia das Horas a Palavra de Deus que a Igreja nos propõe para meditar e viver. Mas a Palavra de Deus está todo dia nos envolvendo e se tornando sempre nova e atual no cotidiano de nossa vida. Quem ilumina e alimenta nossa Oração Pessoal e Comunitária é a Palavra de Deus. Porém na vida da carmelita e de todo cristão a Palavra de Deus não deve fechar-se unicamente sobre o que está escrito na Bíblia, porque Deus falou e o que disse se concretizou: “faça-se a luz”, e a luz foi feita. Vemos assim que antes da Palavra ser escrita em pergaminhos e livros, ela era vivida por um povo que acolheu o chamado de Deus para ser seu povo. E, ainda mais, era transmitida oralmente de geração em geração até chegar até nós. Deus ainda tem muito a nos revelar. Não que Ele já não se tenha revelado plenamente em seu Filho Jesus Cristo, e sim porque nós somos pequenos e limitados, não conseguimos apreender de uma só vez, ou mesmo em muitas vezes o Mistério de Deus. É por isso que Deus ainda segue se revelando a nós. É preciso ter um coração em sintonia com o Coração de Deus, para poder na simplicidade de nossa vida ouvir o que Deus tem nos dizer e revelar de Si mesmo. Deus está em tudo, nos diz nossa fé. Está no simples fato de nós estarmos vivos. A vida é o grande lugar da revelação de Deus. A vida com tudo o que ela contém fala-nos de Deus, e podemos mesmo ouvir sua voz a falar em nosso coração. Os santos são grandes exemplos para nós. Souberam encarnar a Palavra de Deus no dia a dia e, ser teofania, revelação de Deus na história humana. Sejamos nós também Palavra viva de Deus, que transforme e dê à humanidade aquele brilho que Deus tanto sonhou e sonha para nós seus filhos e filhas: um mundo fraterno, solidário e feliz.

Ir. Rejane